Notícias sobre agronegócios, agricultura, pecuária e meio ambiente - 20 de Abril de 2021
Artigos

Nozes e castanhas: a nova galinha dos ovos de ouro do agronegócio

O agronegócio brasileiro representa um segmento extremamente importante para a geração de riquezas e, portanto, para o desenvolvimento do País.

José Eduardo Mendes de Camargo - presidente da Associação Brasileira de Nozes e Castanhas (ABNC)
Em 16 de Dezembro de 2019 às 15h30

O agronegócio brasileiro representa um segmento extremamente importante para a geração de riquezas e, portanto, para o desenvolvimento do País. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, em 2017 o setor representou mais de 44% do PIB brasileiro.

Dados do Ministério da Agricultura (Mapa) indicam que, nos vinte anos referentes ao intervalo de1997 a 2017, o Brasil exportou US? 1,23 trilhões e empregou mais de 30 milhões de pessoas. Somente no ano passado, as exportações do setor totalizaram US? 102 bilhões e a expectativa é a de que 2019 se encerre com um crescimento de 2% (até agosto deste ano, as exportações derivadas do agronegócio superaram os US? 64 bilhões, com o envio de mais de 4 mil produtos para terras estrangeiras).

Embora apresente um potencial de crescimento gigantesco - o consumo de castanhas e nozes no mundo tem aumentado em 6% ao ano, de acordo com o International Nut Council (INC) -, o segmento representa apenas 18% do total das exportações brasileiras. Depois de aumentar em 41% o volume exportado e em 78% as receitas provenientes da venda de diferentes qualidades de nozes e castanhas a outros países em 2018 com relação a 2017, o Brasil registrou o envio de 21 mil toneladas de produtos desta natureza para o exterior, com receita de US? 190 milhões. A cifra é pouco representativa perto dos outros produtos da balança comercial do agronegócio e os números poderiam ter sido muito melhores com investimentos adequados em ferramentas de estímulo ao cultivo destes produtos.

Para se ter uma ideia, o Chile foi capaz de, em dez anos, multiplicar por seis as cifras resultantes da exportação de diferentes qualidades de castanhas e nozes, ampliando de US? 96 milhões para US? 586 milhões as receitas provenientes com o comércio internacional destes produtos. Sem realizar os investimentos necessários, o Brasil trabalha aquém da sua capacidade e perde a oportunidade de colocar o segmento como o 15º na pauta de exportação nacional. Irônico é que, entre as oito castanhas e nozes mais consumidas no mundo, quatro delas estão presentes no Brasil.

Para que se possa explorar de maneira apropriada a capacidade nacional, seja pelo extrativismo ou pelo plantio, é preciso estimular não apenas a produção e o consumo, como o desenvolvimento de pesquisas que permitam descobrir potencialidades ainda ignoradas destes produtos, de modo a ampliar seu valor agregado e também o interesse dos agricultores pelo cultivo destas culturas.

Mas, além da comunidade científica e dos institutos de pesquisa, entidades certificadoras e as cadeias de varejo também deveriam ter um olhar mais carinhoso e atento às possibilidades relacionadas às culturas de nozes e castanhas em diferentes segmentos. Além dos benefícios à nutrição e à saúde, os produtos têm potencial nas indústrias cosmética, na medicina e no setor de embalagens, apenas para citar alguns exemplos.

Uma prova disso é a pesquisa vencedora do Intel International Science and Engineering Fair, na categoria Ciência dos Materiais, da estudante brasileira Juliana Estradioto. A jovem buscou alternativas rentáveis e sustentáveis para o aproveitamento dos resíduos da casca da noz de macadâmia, que é descartada pela indústria. O processamento da noz gera 75% de resíduos e, de acordo com os resultados da pesquisa, podem ser transformados em uma espécie de plástico biodegradável e também em uma segunda pele que estimula a regeneração celular no caso de queimaduras. O projeto surgiu da demanda da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores de Noz de Macadâmia (Coopmac)e contou com apoio do Instituto Federal do Espírito Santo, no Rio Grande do Sul, e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos (ICTA), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS).

Outras possibilidades de estudos ainda latentes estão relacionadas à busca por mecanismos que permitam ampliar a produtividade e o desenvolvimento de novas espécies em decorrência do cruzamento de variedades distintas de nozes e castanhas.

Também é relevante o fato de que o País carece de dados confiáveis sobre a produção, considerando inclusive o volume de produtores envolvidos com o cultivo de cada variedade, assim como da capacidade atual e potencial de cada um deles. Sem dados claros torna-se inviável desenvolver programas adequados com foco no aumento da produtividade, para que o Brasil se torne cada vez mais competitivo.

Além disso, é preciso atenção do Governo aos acordos internacionais, fundamental para que se possa melhorar os ganhos do agronegócio com estas culturas. Para se ter uma ideia, a macadâmia australiana entra na china com alíquota zero, enquanto a brasileira é taxada em 12%; castanhas peruanas ingressam na Coréia com taxas de 3% e há negociações para isenção tarifária, enquanto as castanhas brasileiras são taxadas em 30% naquele país.

O Brasil tem, capacidade e potencial para se tornar um dos principais produtores do mundo de nozes e castanhas, lucrando muito com isso. O segmento pode se tornar uma verdadeira galinha dos ovos de ouro do agronegócio nacional, com investimentos e políticas adequadas. Trata-se de uma cultura relevante, distribuidora de rendas, extremamente versátil em sua aplicação na indústria e representativa de benefícios à saúde e ao meio ambiente. O que estamos esperando?

* José Eduardo Mendes de Camargo, é presidente da Associação Brasileira de Nozes e Castanhas (ABNC) e diretor do Departamento de Agronegócios da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Últimas notícias em Artigos
VER TODAS EM ARTIGOS
Notícias em destaque agora
Notícias da Pecuária
Fale conosco
Anuncie
Expediente
Reportar erro
Política de Conteúdo
O objetivo do Notícias da Pecuária é divulgar notícias, reportagens, entrevistas, eventos e outros conteúdos variados relacionados ao agronegócio. Para a construção dos textos usamos informações próprias, releases de assessorias de imprensa, internet, revistas, artigos e contribuições do público, imagens próprias e imagens de divulgação. Todas as fontes, créditos, e marcas d'água tanto de textos ou fotos são devidamente creditados. Caso você seja autor e se sinta prejudicado por qualquer foto/imagem ou texto publicado, entre em contato por e-mail e prontamente faremos a remoção.