Notícias sobre agronegócios, agricultura, pecuária e meio ambiente - 13 de Dezembro de 2015
08/07/2015 - 08:44

Artigo: Bem-estar animal e agregação de valor

Artigo de autoria da pesquisadora da Embrapa Gado de Corte ?– Sistemas de Produção Sustentáveis/Manejo Animal, Fabiana Villa Alves.
Divulgação - Embrapa Gado de Corte
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Pesquisadora da Embrapa Gado de Corte, Fabiana Villa Alves.

Várias, hoje, são as definições para o termo ?“bem-estar animal?”, aplicáveis a todos os tipos de animais, dos silvestres aos de cativeiro, passando pelos de companhia, os de produção e de experimentação. Embasado nas preocupações sobre o modo como os animais vivem e são criados, o conceito ganhou força devido a dois fatores: de um lado, as questões morais, ?ticas e religiosas, ligadas ao respeito aos animais, que se sobressaíram em alguns âmbitos; do outro, questões t?cnico-comerciais, ligadas ao sistema produtivo e à qualidade final do produto.

Para a Organização Mundial de Saúde Animal, bem-estar animal ? a forma como o animal lida com o seu entorno, e aqui estão incluídos sentimentos e comportamento. Para animais de produção, assume-se que há boas condições de bem-estar quando são atendidas as ?“cinco liberdades?”, que procuram incorporar e relacionar padrões mínimos de qualidade de vida para os animais como: i) livres de fome, sede e má nutrição; ii) livres de dor, lesão e doença; iii) livres de medo e angústia; iv) livres de desconforto; e v) livres para manifestar o padrão comportamental da esp?cie.

No âmbito dos sistemas agroalimentares, a necessidade de remodelação dos modelos produtivos vigentes, com particular foco nos impactos gerados ao ambiente, fez com que o tema ?“bem-estar?” emergisse, nos últimos anos, com grande força nos vários elos da cadeia. A aplicação dos princípios das ?“cinco liberdades?” possibilitou saltos qualitativos em relação: aos sistemas de criação, com adequações do espaço mínimo disponível por animal, fornecimento de dietas balanceadas e disponibilidade de sombra em sistemas extensivos; ao transporte com embarque sem estresse e em veículos apropriados, determinação de tempo e distância máximos, sem interrupção, at? o abatedouro e ao abate, sem sofrimento, com atordoamento eficaz.

Exemplo prático da importância do bem-estar animal para a cadeia produtiva de carnes ? a possibilidade de?exploração e atendimento de mercados consumidores mais exigentes, interessados na chamada ?“grass-fed beef?” (carne produzida sobre pastagens),?em que ??condição?sine qua non?tornar tangível (qualidade final do produto) o intangível (bem-estar). Este tipo de produto com qualidades particulares ? oriundo, na sua maioria, de regiões tropicais. Sua produção, portanto, deve imprescindivelmente prever práticas de manejo que visem à proteção contra a intensa radiação solar, com vistas ao bem-estar animal. Isto porque,?conforme o nível de interação "intensidade de radiação solar x nível de adaptação ao calor do animal", verifica-se maior ou menor estresse nos animais, com empobrecimento de seu bem-estar e prejuízos ao desempenho.

De fato, animais submetidos ao estresse por calor diminuem o consumo de forragem e aumentam o de água, elevam a frequência respiratória, batimentos cardíacos e taxa de sudação, tornam-se irrequietos ou ficam deitados por longos períodos, entre outros sintomas.

Destaque tem sido dado aos sistemas de produção multifuncionais (integração-lavoura-pecuária-floresta, ou ILPF), que al?m de possibilitarem a recuperação de áreas e pastagens degradadas, com baixa produtividade, proporcionam benefícios diretos e indiretos aos animais, como o fornecimento de sombra e?melhoria das condições microclimáticas e ambientais. Tais aspectos incidem positivamente no bem-estar dos animais e o jargão ?“colocar o boi na sombra?” - usado na bolsa de valores quando o investidor ganha muito dinheiro em uma operação, ao ponto de não precisar mais trabalhar - passa a ser tamb?m sinônimo de produto final diferenciado.

Pesquisas conduzidas pela Embrapa demonstram que segundo o tipo de árvore (nativa e exótica) e o arranjo utilizado (linha simples, dupla ou tripla) tem-se diminuição de 2°C a 8°C na temperatura ambiente dos sistemas ILPF, em relação a pastagens sem árvores. Como resultados diretos do conforto t?rmico oferecido melhoram-se os índices produtivos (ganho de peso, produção de leite) e reprodutivos (menor incidência de abortos, aumento nos índices de fertilidade, maior peso ao nascer).?

Somadas, as melhorias aportadas pelos sistemas ILPF à ambiência e ao bem-estar animal, cooperam para o seu fortalecimento como?ferramenta na otimização do diferencial da bovinocultura brasileira ?– rebanhos à pasto ?– e auxiliam na sua consolidação como sustentável no cenário mundial.?? verdade, por?m, que o conceito ?“bem-estar?” apresenta escalas de valores que variam em função das diferentes óticas ?ticas, temporais, culturais, socioeconômicas. Mas, não se pode negar que ? um caminho sem volta.

Nesse contexto, o bem-estar animal, junto a temas como responsabilidade ambiental, sustentabilidade, segurança alimentar e biodiversidade, ganha destaque, e deixa de ocupar um espaço "filosófico", embasado na ?tica pessoal, para se tornar aspecto prático, quantificável e aplicável, passível de ser valorado.

Autora: Fabiana Villa Alves
Pesquisadora da Embrapa Gado de Corte - Sistemas de Produção Sustentáveis/Manejo Animal.

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