Como primeiro passo, deve-se eleger quais s�o as caracter�sticas que se deseja melhorar no rebanho. Podem ser caracter�sticas de produ��o (como o leite, gordura), de conforma��o (pernas e p�s, sistema mam�rio, estrutura etc.), ou de manejo (temperamento, facilidade de ordenha). Confira o artigo de Guilherme Marquez, Especialista em Pecu�ria de Leite e Gest�o em Agroneg�cio pela Rehagro e Gerente de Leite Nacional da Alta.
Guilherme Marquez, Especialista em Pecu�ria de Leite e Gest�o em Agroneg�cio pela Rehagro e Gerente de Leite Nacional da Alta.
Lembro-me muito bem da minha inf�ncia. Conversando com o meu av�, �Seu Laerte�, e vendo o touro �Indianinho�, escutei dele que é muito mais f�cil fazer 100 vacas boas do que um touro melhorador. Hoje, depois de tantos anos trabalhando com genética de zebu�nos e seus cruzamentos, enxergo claramente o que ele queria dizer. Fazer um touro melhorador é muito dif�cil, visto que genética n�o é uma soma exata, e sim uma ci�ncia com muitas probabilidades. Probabilidades que podem ser mensuradas a partir da quantidade de informa��es que cada ra�a possui.
Muita coisa mudou em rela��o � quantidade e � qualidade de informa��o. Em 1919 houve a cria��o do Herd Book Zebu (HBZ), em 1929, a mudan�a de HBZ para Sociedade Rural do Tri�ngulo Mineiro e, mais tarde, para Associa��o Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). Investiram numa for�a-tarefa a fim qualificar os animais zebu�nos para as demandas do mercado. Um dos primeiros passos foi a avalia��o racial de cada animal, bem como a sua identifica��o pelo registro geneal�gico. Parece bem simples nos dias de hoje, mas conhecer a genealogia do rebanho é saber a proced�ncia de um animal e, mais importante ainda, é compreender de onde vem cada caracter�stica. A ABCZ fez isso com muita compet�ncia, desde o seu in�cio e, hoje, contabiliza milh�es de animais registrados, criando um banco de informa��es de pedigree de muita riqueza.
Ap�s esses primeiros passos, a ra�a Gir Leiteiro e a ra�a Guzer� Leiteiro come�aram a ter os seus controles oficiais de produ��o de leite. Essa a��o pode verificar o desempenho de cada animal e compar�-los com os demais do rebanho. Para se ter uma ideia, a Revista Zebu registrou, em 1967, a produ��o da vaca Nutrolac, de propriedade de Torres Lincoln Prata Cunha, da Ch�cara Sundanagar, que, em apenas um dia (duas ordenhas), produziu 16,80 quilos de leite, no primeiro controle.
O controle de produ��o de leite deu in�cio a um grande passo na consolida��o do Gir Leiteiro em nosso pa�s, bem como no resto do mundo. Em 1980, um grupo de criadores e selecionadores do Gir Leiteiro iniciou uma nova caminhada junto � ABCZ, criando a Associa��o Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL). A ideia inicial era diferenciar os animais n�o somente pelas caracter�sticas raciais, mas pelas caracter�sticas de produ��o.
Em 1985 teve in�cio o Teste de Prog�nie da Ra�a que, posteriormente, foi intitulado Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro, sob o comando da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu�ria (Embrapa) e da ABCGIL. O objetivo principal foi promover o melhoramento genético da ra�a Gir Leiteiro, por meio da identifica��o e da sele��o de touros geneticamente superiores para as caracter�sticas de produ��o (leite, gordura, prote�na e s�lidos totais), de conforma��o e de manejo, bem como proceder � avalia��o genética dos animais de todos os rebanhos participantes.
De 1985 até os dias atuais, 24 grupos foram divulgados e 330 touros avaliados. Informa��es relacionadas � Habilidade Prov�vel de Transmiss�o (PTA), de diversas caracter�sticas de conforma��o, produ��o de leite, gordura e ainda informa��es de manejo est�o dispon�veis.
Hoje as filhas de touros Gir Leiteiro possuem uma média de produ��o oficial de 3.600 kg de leite em 305 dias, ou seja, representa mais de tr�s vezes a média nacional, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) de 2014.
Ent�o, podemos fazer a pergunta final: como fa�o um touro melhorador? Bom, o termo melhorador se refere a alguma ou a v�rias caracter�sticas que queremos melhorar. Por isso, como primeiro passo, devemos eleger quais s�o as caracter�sticas que desejamos melhorar no rebanho. Podem ser caracter�sticas de produ��o (como o leite, gordura), de conforma��o (pernas e pés, sistema mam�rio, estrutura etc.), ou de manejo (temperamento, facilidade de ordenha). Com essa escolha bem definida, passamos para o nosso segundo momento.
O momento seguinte é quando vamos conhecer nossas vacas. Quais s�o as melhores vacas do meu rebanho e que possuem as qualidades que estou procurando? Na produ��o, precisamos de mensura��es, por isso, a import�ncia do controle leiteiro. Na conforma��o, podemos utilizar o sistema de mensura��o morfol�gica em que cada caracter�stica possui a pontua��o ideal. Para manejo precisamos também pontuar os animais para temperamento, tempo de rea��o ao est�mulo humano e para a facilidade de ordenha, em que o tempo de ordenha é o que manda.
Ap�s essas an�lises, teremos o ranqueamento dos animais que possuem as melhores pontua��es. Assim, achamos as nossas vacas no rebanho. Podemos fazer a an�lise de fam�lias, buscando aquelas que possuem mais informa��o em rela��o aos seus objetivos. Deste modo, temos um �timo come�o para o trabalho de selecionar as doadoras que se tornar�o m�es de touros. Se tivermos informa��o de descendentes, melhor ainda: todos os dados ser�o inclu�dos em nossa planilha de sele��o.
Passamos a escolha do reprodutor para este projeto. A partir das informa��es disponibilizadas pela ABCGIL e pela ABCZ, podemos tra�ar o seu acasalamento, levando em conta a consanguinidade até 7%. Outros fatores como pigmenta��o e pico de produ��o podem ser avaliados também.
Realizado este passo a passo, é esperar que as probabilidades possam ser maiores para o seu objetivo. É fazer um touro melhorador n�o era f�cil no tempo do �V� Laerte�. Ainda continua dif�cil nos tempos de hoje. Mas, com certeza, contamos com in�meras informa��es que podem nos fornecer um norte mais certeiro e real do que no passado.