Confira o artigo de Liéber Garcia, mestre em zootecnia e coordenador de pecuária leiteira da Premix, sobre a alimentação de vacas leiteiras.
Definimos os ruminantes como animais que conseguem digerir e aproveitar os nutrientes de origem vegetal, como as forragens.
No entanto, isso só foi possível devido à uma simbiose mutualística, com microrganismos presentes no rúmen dos bovinos, como as vacas leiteiras. A forragem ingerida consegue ser fermentada por esses microrganismos, ou seja, a forragem serve de alimento para bactérias, protozoários e fungos, e os mesmos devolvem para o bovino nutrientes como energia, proteína e alguns minerais e vitaminas, todos oriundos dessa fermentação.
Essa degradação dos alimentos no rúmen deverá seguir uma ordem de equilíbrio de nutrientes, como energia fermentável no rúmen, proteína degradável no rúmen, minerais, vitaminas para que, tanto a vaca (animal hospedeiro) e microrganismos sejam bem nutridos, com o propósito de que os mesmos expressem seu potencial genético para produção leiteira.
O problema é que essa degradação ruminal produz, dentre outros compostos, CO2, CH4 (metano), lactato e ácidos graxos voláteis (AGVs), sendo que o CO2 e CH4 serão eructados pelo animal, caracterizando uma perda de energia da dieta. Portanto, se minimizarmos as produções de CH4 e ácido láctico e oferecermos energia e proteína fermentável em equilíbrio, teremos uma melhor eficiência na utilização dos alimentos pelo animal, consequentemente um melhor desempenho zootécnico (ganho de peso, produção leiteira, reprodução).
Dependendo do nível nutricional do animal e dos alimentos disponíveis para balancearmos as dietas, devemos lançar mão dos chamados aditivos alimentares.
Aditivos alimentares são substâncias orgânicas ou inorgânicas que são adicionados aos alimentos dos animais com alguns objetivos, nesse caso para fermentação ruminal ou proteção da saúde do animal, que poderemos resumir em:
• Melhorar o crescimento microbiano;
• Minimizar, eliminar ou alterar os processos ineficientes de digestão;
• Minimizar, eliminar ou alterar os processos prejudiciais ao animal hospedeiro;
Dentre os aditivos alimentares, podemos citar: sais aniônicos, adsorventes de micotoxinas, colina protegida e niacina, biotina, que irão atuar diretamente na saúde do animal, e tamponates, ionóforos, probióticos, leveduras e óleos essenciais, que, neste caso, irão atuar na fermentação ruminal, ora dando condições de crescimento para bactérias benéficas ao sistema, ora eliminando bactérias maléficas ao sistema fermentativo.
Sais aniônicos – Acidificam o metabolismo do animal, melhorando os níveis de Ca no sangue, estimulando a mobilização e absorção do Ca no intestino delgado. Utilizado no período pré-parto (30 dias antes da data prevista para o parto), deverá prevenir quadros de hipocalcemia e retenção de placenta.
Adsorventes de micotoxinas – São substâncias inertes por todo o trato gastrointestinal do animal, que terá a finalidade de “ligar e arrastar” prováveis micotoxinas (Aflatoxina, DON, Zearalenona, etc.) presentes em alimentos “ardidos”, com fungos, como as silagens e grão mofados. Eliminando estes compostos, haverá um incremento em ganho de peso, produção leiteira e, principalmente, no quadro reprodutivo do rebanho.
Colina e Niacina protegidas da degradação ruminal – Seu uso minimiza a formação do quadro de “fígado gorduroso”, muito comum em vacas com escore corporal elevado que, ao parir, mobilizam a gordura corporal para prover energia no balanço energético negativo, sobrecarregando o fígado. Seu uso prevenirá os quadros de cetose nas vacas recém paridas.
Biotina – É uma vitamina do complexo B que atua na prevenção de problemas relacionados com os cascos. Sabemos que o manejo do piso onde os animais se locomovem têm mais efeito sobre os problemas dos cascos. Portanto, antes de partir para o uso deste aditivo, é importante averiguar se o piso está de acordo, caso contrário o efeito esperado não poderá ser alcançado. Estudos mostram que a suplementação de 20 mg/dia de Biotina é suficiente para os benefícios em dureza dos cascos e produção leiteira incrementada.
Tamponantes – Nesse caso, o bicarbonato de sódio, associado ao óxido de magnésio, quando utilizados, deverá equilibrar o pH, aumentando-o e estabilizando de maneira que não prejudiquem, principalmente, as bactérias que degradam fibras. Essa são as mais sensíveis a oscilações no pH ruminal. Uma vez prejudicadas as condições, a fibra da dieta deixará de ser degradada, acarretando queda na produção, baixos níveis de gordura no leite, produção de ácido láctico por bactérias que crescem em pH ácido, levando, inclusive, a problemas de cascos.
Ionóforos – Antibióticos que selecionam bactérias, neste caso as produtoras de ácido lático e metano, são eliminadas do ambiente ruminal, melhorando os casos de acidose ruminal e incrementando a eficiência energética do sistema, fazendo com que o animal produza mais leite. Seu uso deverá ser bem avaliado, pois poderá restringir, dependendo do nível, a ingestão de matéria seca, podendo este efeito ser benéfico ou não.
Probióticos e Leveduras – São compostos metabólicos e/ou organismos vivos que favorecem o crescimento microbiano ruminal, ora eliminando compostos tóxicos (lactato), ora melhorando o ambiente ruminal. Suas enzimas melhoram a degradação dos nutrientes das dietas (principalmente as fibras), favorecendo o incremento produtivo e reprodutivo. Estudos recentes demonstram os efeitos benéficos em animais com estresse calórico.
Óleos essenciais – Polímeros de ácidos graxos são tóxicos para algumas bactérias presentes no rúmen, principalmente os produtos de metano. Seu uso tem incrementado a digestão fibrosa e redução na produção de metano pela fermentação, incrementando a produção dos animais.
Esses são alguns dos aditivos utilizados com maior frequência em dietas de bovinos leiteiros.
Finalizando, para que o uso de aditivos em dietas seja assertivo, devemos sempre fazer as mais importantes perguntas pertinentes ao processo de adoção de tecnologia:
Para que estarei utilizando tal aditivo?
Qual é a resposta prevista por tal tecnologia?
Qual o retorno econômico? Será que não estarei pagando mais do que o benefício esperado?
Há pesquisas disponíveis?
Quais as respostas no campo disponíveis?
Se atentarmos para esses questionamentos, com certeza acertaremos na decisão, não impactando negativamente nosso tão árduo, mas tão necessário, processo de produzir leite!
Liéber Garcia é mestre em zootecnia e coordenador de pecuária leiteira da Premix